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Nova entrada na Biblioteca JMO
Cerromaior
Manuel da
Fonseca
Capa de Manuel
Ribeiro de Pavia
(1ª
Edição - 1943 - PUBLICAÇÃO: Lisboa : Edirorial
Inquérito.)
Editor A Bela e
o Monstro
Coleção Biblioteca
da censura
Nota: " No prefácio à edição de 1982, o autor explica as condições
particulares que rodearam a primeira edição desta obra basilar do neorrealismo
português: submetido a uma censura prévia, o original da obra foi largamente
truncado, correspondendo a edição de 1982 a uma tentativa de reconstituição de
um manuscrito, entretanto, perdido. Ainda no prefácio, recorda com amargura a
polémica receção com o que livro foi acolhido, sobretudo pela crítica, que se
digladiou sobre a qualidade literária do romance. Insensível ao carácter de
símbolo que os espaços e algumas personagens assumem no romance, a crítica
reagiu contra uma escrita romanesca que, de acordo com coordenadas estéticas
neorrealistas, rompia com cânones narrativos tradicionais, pela ausência de uma
intriga que centralizasse os feixos narrativos, pela despretensão da escrita,
límpida e simples, pela realidade social e regional que trazia para a
literatura. Cerromaior, nome imaginário de uma vila alentejana, sugere um
espaço fechado, uma atmosfera sufocante e rude, onde se desenrolaram em
simultâneo as tragédias de uma povoação oprimida pela miséria e pela tirania
dos senhores da Casa Vã. O espaço da prisão, com que se inicia e encerra o
romance, depois de uma longa retrospetiva que descreveu o itinerário iniciático
do crescimento de Adriano, numa aprendizagem da vida, das injustiças, da
hipocrisia, da mesquinhez humana, e numa progressiva revolta contra a
sociedade, simboliza outras prisões: a prisão das convenções sociais que impõem
o recalcamento sexual de algumas personagens, nomeadamente de Adriano ou Lena;
a prisão das recordações, de frases e imagens que a cada passo assolam as
personagens; a prisão maior da fome e da miséria que tolhe a dignidade de
ceifeiros e desempregados. No entanto, o romance vai descrevendo também um
percurso de libertação, que, com Doninha, culmina na loucura, mas que, em
Adriano, vai da realização sexual até à capacidade de assumir as suas opções e
à violência contra os representantes da repressão. O enclausuramento final de Adriano
deixa, por isso, em aberto uma nota positiva: "Puro e sem pecados, o
coração batia-lhe. Ergueu-se. Ia caminhar. Visíveis, à sua volta, os pobres que
tapavam o portão do quintal, Doninha, Zé da Água, Tóino Revel, Bia Rosa,
Inácia, Antoninha, Maltês e os ceifeiros da Fonte Velha seguiam-no. Ao lado,
passo a passo, a mãe ia também - nem ele sabia para onde, mas tinha a certeza
de que era para uma planície de fartura e paz."